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Lugaridades oxalufânicas como condições de possibilidades para exusíacas experiências em festivais de música eletrônica

Cássio Lopes da Cruz Novo

Introdução

Bienalmente, em uma paradisíaca praia no litoral nordestino do Brasil, emerge um Universo Paralello (UP). Assim é nomeado o festival de música eletrônica, situado na praia de Pratigi, Bahia, o qual se apresenta como ponto luminoso de convergência para festivaleiros de diferentes nacionalidades. Ao atrair milhares de participantes a cada edição, uma miríade de ações e imaginações geográficas são efetivadas de modo a tornar a experiência dos sujeitos em busca de festejar música eletrônica como momentos especiais, muitas vezes considerados (quase) sagrados (ROSENDAhL, 2011; NOVO, 2019a, 2019b), de suas histórias espaciais (CRESSWELL e MERRIMAN, 2011).

Para viver a festa, é preciso estar no lugar festivo (FERREIRA, 2012). Imaginar o momento oportuno para viver dias e noites de intensos bombardeios sensoriais integra um compêndio de sonhos, sentimentos, sensações, atitudes e comportamentos que se manifestam no espaço geográfico (SOARES, 2016). Mirar festivais de culturas, artes e sociabilidades associadas aos modos de festejar a música eletrônica na contemporaneidade, sob enfoque interpretativo, permite perceber, em complemento, que esses eventos geográficos festivos (SILVA, 2013) condicionam, oportunizam e refletem eventuais buscas dos sujeitos que os frequentam por novidades e inovações (St. JOHN, 2004, 2017) de modo que se disponibilizem para romper a rotina e viver algo extraordinário.

Igualmente, é necessário admitir que estes eventos geográficos festivos são oferecidos aos que procuram um lugar para vivenciar sentimentos nostálgicos. Ou, ainda, que se apresentam como momento oportuno, lugares potencialmente capazes de gerar oportunidades, com vistas a relembrar momentos e vivências pretéritas e/ou projetar futuros imaginados. Em todos os casos, é possível entendê-los como complexas construções humanas, potencialmente capazes de oferecer aos indivíduos modos de escapar de suas rotinas (TUAN, 2015), dos seus hábitos e das suas vidas ordinárias no presente de então (NOVO, 2019a).

Para festivais como o Universo Paralello, a imersão e a perspectiva de habitar (HEIDEGGER, 1954) o festival, deMORANDO-se em sua área de camping, suspendendo a ordinária rotina da vida comum e inaugurando novos cotidianos no extraordinário espaço e tempo destinados à imersão no festival, requer a corporeidade dos sujeitos que intencionam viver, naquele lugar e tempo, momentos especial e espacialmente qualificados de suas vivências (NOVO, 2019a). Requer, ainda, o entendimento e o comprometimento da equipe de produtores e organizadores do evento. Grupos de produtores dedicados a trabalhar, rigorosamente, objetivando oferecer condições de possibilidade para o imprevisível acontecer.

Caminhos para imaginar, viver e interpretar experiências festivas

A existência é corporificada (MERLEAU-PONTY, 2015). E essa constatação envolve assumir a importância de imaginações geográficas (WRIGHT, 2014, LINDÓN e HIERNAUX, 2010; LOWENTHAL, 1982) no fluxo da existência dos indivíduos. Existimos em relação. Em relação com os outros, com os quais nos encontramos no espaço geográfico. E em relação com os espaços, lugares e paisagens nos quais nos reconhecemos e com os quais construímos nossas realidades geográficas, sociabilidades e modos de existir. Existimos, também, em relação aos modos de existência imaginados, potencialmente capazes de nos atrair, de corpo e alma, para experimentar o encontro com o (sensível) do mundo, encontrando as festas e festejando (n)estes encontros festivos.

O corpo, dotado e impulsionado pelas imaginações geográficas, incorpora a potência, e vivencia as possibilidades, de empreender deslocamentos em múltiplas escalas, sentidos e direções. A existência encarnada, portanto, se faz capaz de se abrir ao imprevisível campo de possibilidades que a complexa e rigorosa organização de um festival desta magnitude oferece aos participantes e demais envolvidos com a sua realização. Sendo assim, o corpo do festivaleiro assume, incorpora e encarna princípios exusíacos enquanto os produtores vivenciam e praticam aspectos e elementos oxalufânicos. O festival, por sua vez, emerge como entidade e encruzilhada. E, como tal, se apresenta como campo incessante de múltiplos tensionamentos entre os princípios oxalufânico e exusíaco.

Nesse estudo invisto em uma pedagogia das encruzilhadas (RUFINO e SIMAS, 2018) de modo a interpretar sentidos e significados associados aos modos de organizar, imaginar e experienciar o festival. Parto do princípio no qual lugaridades oxalufânicas configuram-se como condições de possibilidades para exusíacasas experiências festivas. Lançando-me da matriz epistêmica das culturas de fresta (RUFINO e SIMAS, 2018), fundamentadas, especialmente, nos saberes de comunidades de terreiro, e adotando práticas dialógicas com os pensamentos, escritos e conversas com o autor Luiz Rufino acerca das performances afrodiaspóricas (RUFINO, 2019), intenciono enlaçar essas ideias ao repertório da ciência geográfica, com o intuito de anunciar as imaginações geográficas como conjuradoras de mundos outros possíveis. E, desse modo, responsáveis por atrair os corpos dos participantes ao lugar festivo para terreirizar a festa.

Em complemento, tomo o corpo como meio de enunciação de extensa gama de sentidos que vão sendo (re)criados entre pausas e movimentos da corporeidade em relação com espaços, paisagens e lugares. Essa abordagem acerca da corporeidade revela um mosaico de entendimentos de mundos capazes de superar, em muito, o modo de fazer ciência e o olhar científico legitimidado pela historiografia científica ocidental e moderna, pautada e limitada pelo positivismo, pela linearidade e pela rigidez de suas análises sobre fenômenos que se abrem para o campo de geografias do sensível e das emoções (SILVA, 2019). O corpo, então, constitui-se e manifesta-se como condição essencial para o encontro sensível com o mundo (BESSE, 2014). A existência encarnada é o indivíduo em relação com o mundo, enquanto está em relação com as pausas (TUAN, 2013) e com os movimentos (CRESSWELL e MERRIMAN, 2011) pelos quais ele próprio, e os demais festivaleiros, experimentam o festival, significam suas experiências festivas e dotam de sentido as suas vidas.

Nas batidas desse rolê espitemológico, Rufino (2019) invoca Exu/Elegbara como senhor do corpo (em movimento). Enaltecendo este princípio, e a corporeidade a ele associada, como dimensão de saber de corpos subalternizados, marginalizados e periféricos, contra-hegemônicos, mobilizado por fluxos realizados no contexto da diáspora transatlântica, o autor proclama a dimensão exusíaca assumida como “princípio explicativo de mundo, potência criativa e disponibilidade conceitual para pensar filosofias montadas e paridas no/pelo corpo” (RUFINO, 2019, p.65).

Acompanhando o gingado e o sincopado dos pensamentos do supracitado autor, a corporeidade, especialmente no contexto temporal e espacial do festival, emerge e manifesta-se, nesta pesquisa, como parcela das complexas questões que envolvem a construção do sentido de lugar (RELPH, 2012) e a construção de condições de possibilidades para se viver experiências memoráveis na Praia de Pratigi, Bahia, por ocasião do referido festival.

Para o historiador das macumbas[1], Luiz Antonio Simas (2020), os saberes e referenciais vinculados à Oxalufan, orixá que possui como aspectos distintivos de sua manifestação personalística a paciência, o método, a ordem, a retidão e o cumprimento dos afazeres pré-determinados, azeita-se com os rigores e cuidados necessários para produzir e gerir um megaevento do porte do festival Universo Paralello. A diligência e cuidado no booking dos artistas, a criação das áreas destinadas ao camping, a elaboração e o cumprimento dos horários referentes às centenas de atrações distribuídas pelos espaços e pelos dias e noites de festival, a gestão das rotinas e logísticas envolvendo alimentação, catering, hospedagem e transporte de artistas e staff, das fossas sanitárias e limpeza dos banheiros, a atenção e cuidado com os detalhes, e alcançando a manutenção dos elementos decorativos e cenográficos, a localização e o tempo dedicado às performances dos artistas contratados para entreter os participantes nas pistas e demais espaços de circulação do festival, todas essas atividades envolvem minucioso planejamento, rigorosa execução e controle rígido, metódico e ordenado das ações no espaço e sobre o espaço geográfico.

O estudo fundamenta-se em uma investida etnogeográfica durante a edição 2019/2020, alinhada com abordagens fenomenológicas e aninhada nas sendas da geografia humanista cultural. A abordagem elencada envolve a conjugação de teorias e metodologias de caráter interdisciplinar, privilegiando, sem se limitar, as atinentes à geografia humanista cultural e geografia cultural renovada, sobretudo aquelas vinculadas aos estudos de manifestações festivas e da religião, enfatizando suas espacialidades e as abordagens visuais do espaço. Por essas trilhas é possível enfocar o fenômeno considerando a concretude das experiências ali vividas, bem como a forma simbólica espacial do festival como um lugar-terreiro, acionando, em complemento, os conceitos de território cultural e geossímbolo (BONNEMAISON, 2012) de maneira a identificar e interpretar algumas das dinâmicas sociais e (quase) religiosas que dele partem, por ele circulam e a ele chegam no tempo da festa em sua materialidade e simbolismos.

Em se tratando de um lugar especial onde e quando se vivem experiências imersivas, transformativas e memoráveis (NOVO, 2019a, 2019b), as identidades dos indivíduos e dos integrantes dos grupos culturais ali reunidos para festejar música eletrônica, vinculam-se visceralmente ao lugar de pertencimento de seus afetos e visões de mundo. (St. JOHN, 2004, 2005, 2006, 2009, 2010). Também é possível afirmar, com base nas interações vividas em campo, que os espaços e lugares do festival são territorializados, nas intercorrências do acontecer festivo, de modo a serem tomados, vividos e encantados como terreiros (RUFINO e SIMAS, 2018).

É válido apontar, antes mesmo de investir no entendimento das lugaridades oxalufânicas como condições de possibilidades para exusíacas experiências festivas em festivais de música eletrônica, que o evento geográfico festivo, ao ser praticado como terreiro, encarna aspectos e elementos semelhantes, nunca iguais, relativos às culturas (e os indivíduos que lhe são (re)criadores, portadores e difusores) relacionadas com a EDM[2], amplificando-as no tempo e no espaço da festa. Festividade a qual, por sua vez, reveste-se de aspectos e elementos místicos e religiosos associados aos movimentos new-age como raves e festivais de música eletrônica imersivos, xamânicos e transformativos (SASSATELLI, 2011; ST. JOHN, 2017).

O Universo Paralello, nesse contexto, atrai para si, acionando fluxos que variam do global ao local e vice-versa, a reunião e a potência, de fazer convergir crenças e sociabilidades dos indivíduos e grupos culturais ali presentes. No lugar festivo, esse complexo, volátil, fugaz e efêmero conjunto de sentimentos, sensações e identidades, vai sendo enovelado ao passado, enganchado ao presente e associado a um futuro vislumbrado pelos sujeitos irmanados e animados pelo festejar. Esses enlaces se constituem como nódulos existenciais nas tramas de sentido conferido às vidas que vão sendo amalgamadas, nas pistas de dança e nos demais espaços do festival, enquanto memoráveis, refinados e singulares modos de ser e estar no mundo. E, também, como modos de festejar em sociedades de fim de semana (St. JOHN, 2017) dos integrantes de neotribos contemporâneas (MAFFESOLI, 2010). São essas dinâmicas espacializadas que interpreto, almejando iluminar, como se tornam possíveis de serem vividas e significadas com tamanha luminosidade para festivaleiros deste Universo.

No centro do universo, no “olho do pavão”

É aqui, neste lugar específico, o centro do mundo. Todos os fluxos parecem convergir para esta única localidade. Para este único instante. Para este lugar. Daqui eu abro os olhos e observo o que existe em torno de mim. Para onde quer que a vista alcance, há indivíduos, pares, casais, ou grupos de pessoas dançando. Suando. Muitos estão sorrindo. A maioria veste trajes sumários. Quase todas as mulheres utilizam a parte de cima dos biquínis. Algumas escondem a parte de baixo com shorts, jeans, saias esvoaçantes, cangas engenhosamente amarradas. Outras, nem isso. A parte de baixo da peça de banho acompanha a superior e, juntas, conferem ainda mais cor e movimento ao corpo que dança. Os homens, muitos com as cabeças e ombros abrigados do sol escaldante por cangas de praia fluorescentes, retesam músculos da face e do tórax enquanto se movimentam pela pista do monumental Main Stage[3] com as cores, formas e simbolismo de um imenso e colorido pavão. Estou cercado dos amigos que compartilham comigo a experiência de estarmos, pela primeira vez, no festival de nossos sonhos. Ao nosso redor, todos e todas usam óculos escuros.

O conjunto de ações descrito acima é apresentado como cenas em desdobramento no tempo e no espaço dedicado ao festejar música eletrônica. Parte de minhas vivências no festival Universo Paralello, assumindo e apresentando os desafios, limitações e potencialidades (além de situcionalidades[4]) de ser pesquisador de festas e festivais e estar festejando. Festejando a oportunidade de praticar a ciência na qual acredito e pela qual me movimento, pelo espaço, pela pista de dança (em campo) e pelos gabinetes e bibliotecas, enveredo pelos caminhos de uma geografia aberta aos afetos, às emoções (SILVA, 2019) e aos sentimentos. Invisto, portanto, pelas trilhas de uma geografia humanista cultural, profundamente existencial, envolvida, fenomenologicamente, com o processo de ver, sentir e interpretar experiências memoráveis e significativas para pessoas nos lugares e com os lugares.

A escrita que se aproxima de um breve relato do que é visto e sentido em campo oportuniza situar os corpos, em movimento, posicionados (na pista, no campo) como condição primordial e essencial para viver a experiência festiva. Não obstante, é preciso inquirir: como, por que e com quais disposições esse corpos chegaram a se reunir nesta específica parcela do espaço geográfico, uma praia quase deserta (nas temporalidades além daquela de realização do festival), no estado da Bahia?

Entendo que, primordialmente, são as imaginações geográficas as responsáveis por instigar os festivaleiros ao movimento. Cabe a elas a função de atrair a atenção, os pensamentos, inspirar devaneios e sonhos e, desse modo, cooperar na ativação dos deslocamentos dos corpos ao evento geográfico festivo. Esses eventos, por definição, possuem horários e locais previamente determinados para ocorrer. O que, de acordo com algumas das ideias já apresentadas, denota a dimensão oxalufânica presente no seu planejamento e execução.

O festival ocorre em um lugar especialmente qualificado, também pelas imaginações geográficas de seus participantes, como lugar onde se é possível viver o extraordinário. Assim, se faz possível encontrar outros sujeitos, portadores de culturas relacionadas com neotribos contemporâneas (MAFFESOLI, 2010) reunidos, eventual e esporadicamente, para festejar música eletrônica, como integrantes de sociedades de fim de semana que são (St. JOHN, 2017).

A investida geográfica humanista cultural aqui realizada enfoca o sentido de lugar (RELPH, 2012) criado e vivido a partir das imaginações geográficas de festivaleiros. E entende que são intencionalmente estimuladas pelos produtores do evento, conscientes que são e estão das necessárias ações normativas, rigorosas e metódicas na modelação do espaço físico onde o evento será realizado. Assim como na promoção das narrativas e ideias acerca do festival que produzem. Por conseguinte, as imaginações geográficas, ativadas pela organização do evento, são recebidas, acionadas e transformadas pelo conjunto de seus participantes em um complexo mosaico de interações entre aquilo que se deseja falar e anunciar acerca do festival e aquilo que o festival passa a ser, enquanto fenômeno a ser vivido, e significado, pelos festivaleiros.

Segundo Dardel (2011, p. 25) “a geografia autoriza uma fenomenologia do espaço”. E, desta constatação, é possível considerar sonhos, devaneios e imaginações geográficas como elaboradas, sensíveis e complexas tessituras da capacidade inventiva humana a partir de sua condição primordial de existência terrena. Assim, as imaginações geográficas, em conjunto com a ação dos corpos em interações espacializadas, colaboram para a abertura de se viver a perspectiva experiencial do lugar festivo no tempo do festejar (NOVO, 2019a).

O princípio exusíaco sinalizado anteriormente sugere a abertura de caminhos (epistemológicos e na concretude das experiências vividas no festival) para imaginações geográficas e corpos festivaleiros se deslocarem em direção a múltiplos encontros possíveis. Também é possível afirmar, com base nas interações vividas em campo, que os espaços e lugares onde esses encontros acontecem (BONDÍA, 2022) no festival são lugarizados, nas intercorrências do acontecer festivo, de modo a serem tomados, vividos e encantados como territórios-terreiros (RUFINO e SIMAS, 2018).

Neste ponto é necessário interromper a fluidez dos escritos para firmar um ponto: enquanto a dupla de autores enfoca o território como parcela do binômio, procuro, no fluxo das minhas vivências reflexivas nos festivais, e nos desdobramentos das interpretações e análises geográficas sobre elas, incorporar a reflexão provocada por eles para sugerir a substituição da noção de território pela essência lugar (HOLZER, 2011). Assim o faço por entender o lugar-terreiro como condição de possibilidade para o encantamento do espaço, do corpo, do festival e da própria vida.

(A)firmando o ponto sobre o lugar-terreiro

Antes de investir no exame da essência lugar, acompanho o sincopado pensamento de SIMAS (2020) para acionar a noção de terreiro não como espaço fixo consagrado ao rito religioso. Terreiro, na perspectiva aqui adotada, sugere uma parcela do espaço geográfico, qualificada pela experiência corporificada de sujeitos em trânsito e em transe, e praticada na dimensão do encantamento do mundo. Os festivais de música eletrônica, muitas vezes organizados em espaços rurais, ermos, distantes dos centros urbanos, ou em localidades paradisíacas e distantes das sociabilidades rotineiras do cotidiano de grandes cidades, são imaginados e vividos, intensamente, por festivaleiros, como lugares encantados. Lugares possuidores de predicativos especiais. E constituídos por um genius loci (RELPH, 2012). Ainda que sejam, para seus produtores e organizadores, lugares imaginados, espaços abstratos e ambientes projetados por profissionais geômetras (DARDEL, 2011).

Não obstante, para os demais grupos sociais, e em outras temporalidades, são espaços ou territórios funcionais. Onde a lógica de reprodução do capital e das relações humanas se desenvolve de acordo com as conjunturas espaciais, econômicas, culturais e sociais de cada localidade. Entretanto, quando os corpos festivaleiros encontram as pistas de dança, os artistas, as barracas de camping, e uns aos outros nesses lugares, realizando o encontro previamente projetado em imaginações geográficas, os sons graves das caixas de som reverberam nas tendas multicoloridas, os sintetizadores produzem e distorcem sons através da manipulação de correntes elétricas ou da leitura de dados digitais, os pés encontram o solo da pista, sacralizando o espaço e transformando-o em lugar festivo. Assim, finalmente, o festival é terreirizado.

Ainda de acordo com o historiador, inicialmente é o corpo que se faz terreiro. Desse modo, encantar o espaço, para transformá-lo em lugar, encantando a própria existência dos seres festivaleiros ali reunidos, requer o fundamento e o assentamento do corpo como terreiro primordial. Segundo Merleau-Ponty (2015) o corpo constitui-se como nosso instrumento de relação com o mundo. Mixando as ideias dos autores, posso considerar a terreirização do lugar sendo praticada, durante o acontecer festivo, como modo de ser e existir no mundo. E, também, como dimensão de praticar o encantamento do mundo vivido em festa para tornar experiências em curso ainda mais significativas e memoráveis (NOVO, 2019a; St. JOHN, 2017). Percorrendo as encruzilhadas epistemológicas aqui expostas, a dimensão exusíaca requer o corpo como condição para a encarnação da existência, para o arrebatamento e para a abertura de caminhos que serão desbravados no futuro que se está a construir no presente de então.

Ao adentrar o espaço das pistas de dança, os pés descalços ou calçados, as vestimentas e indumentárias, os diferentes cortes de cabelo e de barbas modeladas, os piercings, as tatuagens, os seios desnudos ou biquínis fluorescentes que vestem e adornam os corpos festivaleiros, são como mantos ou símbolos (quase) sagrados que possibilitam a sacralização do espaço em lugar para se transcender. Os pés que pisam forte no chão, batendo com força no terreno, agem como instrumentos de assentamento dos festivaleiros os quais, em conjunto, e embalados pelas trilhas sonoras, se transformam em entidades eletrônica e psicodelicamente ativadas para festejar.

A mente, psicodelicamente ativada, produz efeitos intensos sobre a experiência e sobre o notar da experiência (BONDÍA, 2002) dos sujeitos submetidos aos bombardeios multissensoriais oportunizados pelo festival. A percepção de elementos e aspectos da consciência, anteriormente desconhecidos, despercebidos ou ignorados, emergem e se presentificam para serem vividos, sentidos, (re)significados e compartilhados. As substâncias alteradoras do estado ordinário de consciência, legalizadas ou ilícitas, naturais ou sintéticas, potencializam efeitos dessas experiências psicodélicas e sinestésicas. A intensidade daquilo que se vive no curso dessas experimentações lugarizadas possui, para muitos participantes, o sentido de comunhão com o sagrado ou de aproximação a um estado de êxtase religioso (St. JOHN, 2004, 2005, 2006, 2009, 2010).

Assim, quando os corpos ravers e festivaleiros se reúnem para festejar música eletrônica, apropriando-se dos espaços do festival, lugarizando a pista de dança, colaborando para a criação de atmosferas festivas e transcendentes, enunciando gramáticas do corpo em ação por intermédio de movimentos e gingados dançantes, ocorre o processo de terreirização espacial e corporal. Um processo capaz de amalgamar a terreirização do espaço e da existência corporificada na concretude da experiência, vivida na fresta oportunizada pelas festas, do ser-no-mundo com o mundo que o envolve, acolhe, desafia, instiga, inspira, limita e provoca a ser (re)conhecido. Terreirizados os próprios corpos festejantes, a vida também é terreirizada na dimensão do encante. Assim como as localidades que abrigam e recebem esses festivais e os seus participantes, se oferecem a ser vividos e praticados como um lugar-terreiro.

Experiências vividas no âmbito de festivais imersivos e transformativos como o UP são imprevisíveis e extraordinárias. A dimensão exusíaca dos acontecimentos resvala e reflete o princípio presentificado no Exu orixá. Segundo Rufino (2016) o orixá vincula-se à fertilidade e à sexualidade. E, desse modo, à própria criação da vida. Com isso, é possível afirmar que o princípio exusíaco remete ao movimento que tudo cria e recria. E, portanto, Exú é tido como senhor dos caminhos, das ruas, das encruzilhadas, das infinitas possibilidades. Neste estudo é importante destacar ainda, que “nas culturas do candomblé e da umbanda Exu seria também o dono do corpo e da palavra, sem existir hierarquizações entre as formas de comunicação verbal e não verbal.” (RUFINO, 2016, p.60).

O corpo (domínio de Exu Bara) e o próprio movimento (domínio de Exu Elegbara) são, portanto, veículos de comunicação (RUFINO, 2016). Dessa forma, movimentar o corpo nos espaços de fluxo do festival, e nas pistas de dança de cada palco, também incorre em movimentar (n)esses mesmos espaços e pistas por intermédio de enunciações corpóreas (verbais e não-verbais) de cada participante envolvido com a sua dinâmica ou performance festiva. O Universo, transformado em lugar-terreiro festivo, confere sentidos próprios e específicos aos ritos ligados ao festejar música eletrônica em sociedades liminares no âmbito de neotribos urbanas, as quais vivem e significam festivais como o UP como ritos de passagem pós-modernos.

Assumindo essa perspectiva, a concretude existencial emerge quando e onde o ser festivaleiro está festejando. E é identificada e interpretada como linguagem em trânsito. Ou seja, em permanente processo de transformação. Projetada e lançada, no limiar do entendimento propiciado por essa abordagem, é apresentada como linguagem geopoética. E, como tal, investida da qualidade e potência de inventar e instaurar mundos outros nas frestas e dobras do mundo onde o UP se realiza, oficialmente, como potente modo de existir.

O Universo Paralello exemplifica a potência do princípio exusíaco manifesto nos festejos. Segundo Rufino e Simas (2018), Exu é aquele que vive no riscado, na brecha, malandreando no sincopado, desconversando, quebrando o padrão, subvertendo no arrepiado do tempo, gingando capoeiras, balançando-se no fio da navalha. Exusíaco é o princípio do habitar aonde não se tem endereço certo. Assim como seguir um rumo perdido, acreditar nas incertezas e se lançar na pista de dança como quem se projeta ao abismo cercado por sujeitos enredados em suas trajetórias espaciais e vivências extraordinárias. Segundo Sandes e Novo (2020) a performance coletiva observada em eventos geográficos festivos pode ser entendida como elemento de análise. Especialmente se entrelaçada com questões mais amplas relacionadas às celebrações, às expressões do sagrado, aos rituais, à memória ancestral e à multiplicidade de linguagens e gramáticas, pelas quais a corporeidade alcança importante valor sígnico para as sociabilidades, assim como, para pertencimentos identitários. A pista de dança, em particular, e o espaço do festival, em geral, constituem-se enquanto formas e elementos fundamentais na ativação das identidades dos participantes e nas experiências vividas no espaço e tempo qualificados para o festejar.

Diante das encruzilhadas epistemológicas e existenciais, a possibilidade de lançar-se ao horizonte pretendido, como modo de subverter o futuro em construção no presente de então, aproxima-se daquilo que Rufino e Simas sustentam como princípio exusíaco. Para os autores “Exu é o princípio dinâmico e fundamental a todo e qualquer ato criativo” (RUFINO & SIMAS, 2018, p. 20). Ao firmar este ponto, a dupla de autores se alinha ao entendimento da força e proeminência de Exu como princípio fundamental de imprevisibilidade, dinamismo e possibilidades de invenção de vidas continuamente renovadas por aqueles que se sujeitam viver experiências transformadoras. Seja por intermédio do trânsito de corpos, quer seja pelo transe induzido durante rituais liminares, o que os aproxima, consideravelmente, das condições assumidas por participantes em busca do lugar de transcendência, é Exu quem “versa sobre as transformações radicais e sobre a necessidade constante de reinvenção da vida” (RUFINO & SIMAS, 2018, p. 23).

Pelas trilhas adotadas até aqui, é possível conceber o Universo Paralello como encruzilhada na qual os sujeitos se colocam em atitude intencionalmente voltada para a travessia de um mundo, cotidiano, para outro, sobrenatural, mágico, extraordinário. Para Rufino e Simas (2018, p. 23) “a humanidade sempre encarou os caminhos cruzados com temor e encantamento. A encruzilhada, afinal, é o lugar das incertezas, das veredas e do espanto de se perceber que viver pressupõe o risco das escolhas”.

Ainda que discorde dos autores em torno da generalização por intermédio da qual anunciam a adoção de um pensamento hegemônico contrário ao valorizar dos entrelaçamentos de possibilidades de investigação científica de algum tema, haja vista a existência da própria fenomenologia e, por que não, da geografia humanista cultural, concordo com ambos quando afirmam que a encruzilhada é lugar das incertezas onde se avista o imponderável e a necessidade de assumir os riscos é sentida. O Universo Paralello oferece sensações e desperta sentimentos assim em muitos dos participantes. Vivê-lo, intensamente, envolve assumir riscos que o atravessamento de mundos oferece para os integrantes e praticantes dessas culturas associadas ao festejar música eletrônica.

As práticas culturais, neste contexto, se tornam ainda mais poderosas. E se tornam, reveladoras daquilo que os grupos imaginam e declaram ser e desejar, na medida em que fincam no espaço suas raízes mais profundas, transformando-o em lugar-terreiro, de onde (se) evocam memórias herdadas de um passado, que se imagina ou acredita, coletivo. E aonde se atualizam, continuamente, algumas das teias de significado comunitário, em constante processo de negociação, (re)significação e difusão, por intermédio do próprio festival.

O conjunto de reflexões acima reverbera e amplifica os pensamentos de Benedict Anderson sobre como se formam e se reforçam, entre sentidos e sentimentos, as comunidades: “as comunidades se distinguem não por sua falsidade/autenticidade, mas pelo estilo em que são imaginadas” (ANDERSON, 2008, p. 33). Para ravers e festivaleiros, festejar música eletrônica em lugares especial e espacialmente qualificados para possibilitar, promover e potencializar suas experiências, constitui-se em elemento central do processo de formação, vivência e publicização de suas identidades. O ato de festejar nesses lugares-terreiros colabora com a invenção e da projeção de um ser festivaleiro.

O enredamento das ideias acima expostas ressoa a percepção do ­ser festivaleiro vinculada ao amor pela música eletrônica, pelas sensações e pelos sentimentos vividos e compartilhados nas pistas de dança. Contextualizando, essas vivências estão enraizadas na ideologia de paz, amor, união e respeito, especialmente cara aos integrantes dessas neotribos contemporâneas, que possuem na vivência de festivais, um de seus elementos característicos mais distintivos e evidentes.

A existência corporificada desses sujeitos disponíveis para o transe e para o trânsito de suas mentes e corpos no contexto do festejar música eletrônica, ancorados pela ideologia P.L.U.R.,[5] possibilita que se possa territorializar suas identidades. Concomitantemente, elas são vividas, (re)construídas e anunciadas por intermédio de estratégias de posse e manutenção de territórios nas pistas de dança ou nos espaços marginais do festival como um todo. E, também, vividas e significadas como elementos constituintes da concretude de ser-e-estar no mundo, vividos no intercurso da experiência de ser festivaleiro e estar no lugar festivo dos seus sonhos e desejos: o Universo Paralello.

A contínua reificação das ideias de comunidade, e o fortalecimento dos laços identitários de pertencimento, cooperam para tornar o Universo Paralello em um lugar-terreiro onde lugaridades oxalufânicas possibilitam exusíacas experiências festivas. A fresta inventada, mirada, vivida e significada por intermédio da festa, suspende o cotidiano e suas ordinariedades. Inclusive a noção de identidade nacional ou localismos outros. No cotidiano extraordinário permitido por festivais imersivos como o UP emergem sensações de congraçamento e sentimentos de comunhão com os demais participantes ali reunidos. Geografias emocionais (SILVA, 2019) que se enlaçam aos passos trilhados por Simas (2021, p. 17), quando afirma;

o sentimento de pertencer a um território amalgamado a um Estado – elemento fundante dos nacionalismos – é historicamente produzido e reproduzido de maneira dinâmica: alterado, inventado e reinventado, ainda que pareça eterno, natural e dotado de fixidez.

Transições e transitoriedades entre territórios e territorialidades, identidades e lugaridades, remetem à noção do espaço geográfico como lócus de conflitos e incessantes disputas e negociações acerca de sua posse simbólica, material e dos sentidos que as narrativas a seu respeito podem assumir. Ocorrendo a partir da atribuição de valores políticos, ideológicos, (quase) religiosos e afetivos presentes no transcurso do evento geográfico festivo, assim como nas temporalidades que antecedem e sucedem a ocorrência do mesmo.

O gênero musical, nesse caso, é tornado componente indispensável nas complexas formulações pelas quais, no campo fértil das imaginações geográficas, nos (re)conhecemos como habitantes, transitórios e transcendentes, do Universo Paralello. As sutilezas de modulações digitalmente arranjadas e processadas, entrecruzadas com o grave rufar de bumbos eletronicamente distorcidos e amplificados, são continuamente reelaboradas como modos inventivos e sensíveis de construção de vidas, e supravivências, no lugar e tempo para festejar música eletrônica.

Considerações finais

Os desdobramentos da pesquisa apontam para a necessidade de cruzar ações normativas e imaginações subversivas de maneira que o Universo Paralello aconteça para o conjunto de seus participantes, abrindo-se, como a cauda de um pavão, em múltiplas e reluzentes possibilidades de cores, formas e atrações para os sentidos.

Ao assumir o Universo Paralello como evento geográfico proponente de uma maximização sensorial de experiências, e como lugar onde a ambiência e a atmosfera são intencional e providencialmente construídas, aliadas ao uso de substâncias que expandem e/ou alteram a consciência, modificando sensibilidades corpóreas e imaginativas, o festival se configura como catalisador a ser explorado de modo a complementar a(s) realidade(s) que lhe(s) é (são) apresentadas. Em se tratando de acionar a ideia de catalisadores, é preciso recorrer, novamente, a Rufino e Simas (2018) quando refletem sobre o Oxalufânico e o Exusíaco. O encontro entre esses princípios, de acordo com os autores, inaugura reações enzimáticas a partir dos processos de cruzo entre ordem e subversão; retesamentos e afrouxamentos; material e imaterial, permitidos e possibilitados pela manifestação festiva dos modos de ser e estar no mundo de sujeitos festivos que se deslocam e agem na dimensão do transe e pelo trânsito nas frestas e festas.

Lançado em arremetida fenomenológica para, intencionalmente, voltar-me ao fenômeno, para com ele me envolver, e por ele ser envolvido, admito a concretude da experiência vivida, imaginada e corporificada, quando e onde modos de ser e estar no mundo se presentificam como luminosa e memorável existência, encarnada e vivida no espaço e no tempo do lugar festivo. Sendo assim, imaginar a festa, estar presente à ela, festejá-la, negociando seus sentidos e significados, participa de um rico mosaico de ações vivenciadas enquanto atos existenciais, na medida em que se oferecem ao campo de possibilidades que cada indivíduo possui, diante de si, a cada instante de sua vida, seja esta no tempo ordinário e oxalufânico comum ou, ainda, na temporalidade extraordinária e exusíaca da festa (RUFINO & SIMAS, 2018). Desse modo, nos habilitamos a transformá-la em arte, orná-la com ginga e suor ou, ainda, individualizá-la a partir dos encontros e encaixes que cada parcela daquele mosaico adquire.

O argumento acima se conecta à contribuição kierkegaardiana para cruzá-la com os pensamentos de Rufino e Simas (2018) na encruzilhada assentada no Universo onde os Paralellos se encontram. O festival é construído e significado como lugar onde ocorrem encontros. Encontros muitas vezes inesperados, imprevisíveis, irreprodutíveis, entre imaginação, corpos e sujeitos em transe e em trânsito. Pensar assim, sugere a possibilidade de reafirmar, assim como Sampaio (2003) afirma ter feito Kierkegaard anteriormente, a originariedade da imaginação. Para o filósofo norueguês a imaginação supera e vai além da noção transcendental até então vigente, de manter em si a verdade sobre si mesma, para declarar a imaginação lançada no campo de possibilidades da própria vida humana. Ou seja, a imaginação consiste em um campo exusíaco, portanto de movimentos, e em movimentos, de possibilidades dentre as quais, ela própria, oscila, vagueia, se insinua e retroage, de acordo com os sujeitos e as temporalidades e lugaridades de onde são lançadas, por onde passam e aonde chegam. Nesse sentido, lugares, especialmente, nesse caso, o Universo Paralello, se constituem a partir de circunstancialidades no âmbito das quais é imaginado, criado e vivido (MARANDOLA, 2012).

A imaginação está, portanto, lançada ao existir (LE BLANC, 2003). Ela, enquanto campo de possibilidades múltiplas do indivíduo, submete-se à livre escolha dos sujeitos e às suas capacidades criativas. Se o indivíduo é livre para escolher, ainda que isso lhe pese sobre os ombros como um fardo a ser transportado por toda a vida (CERBONE, 2003; SARTRE, 2015) de acordo com perspectivas existencialistas, a imaginação é livre para criar e escolher o que lhe convier. Inclusive, e para efeitos e realizações desta pesquisa, deslizar, como um sopro (SARTRE, 2015), para o fenômeno que me atrai, inquieta, desafia e me induz a experienciá-lo. Enquanto por ele, assim entendo, sou experimentado em igual medida.

Para a liberdade que atribuo à imaginação é possível, inclusive, a capacidade criativa de qualificar espaços imaginativamente. Isto é, imaginar lugares. Se assim o faço, entendo que os produtores do festival também empreendem, na mente e no espaço, ações espacializadas, vivenciando suas próprias lugaridades. Estas, capazes de transitar entre a rígida e metódica organização e modelagem do espaço da festa, assim como pelo minucioso arranjo espacial de seus elementos. Enquanto nós, festivaleiros, habitantes de um Universo Paralello único e especial, nos disponibilizamos para exusíacas movências de imaginações, da corporeidade e por trajetórias espaciais e para experiências em festivais de música eletrônica.

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  1. Modo como o próprio autor costuma referir-se a si e ao seu modo de ser e pesquisar religiosidades e culturas populares de fresta.
  2. Electronic Dance Music é um termo globalmente aceito. Além disso, suficientemente generalista para englobar extensa gama de sentidos, significados, culturas, vertentes da música eletrônica e indivíduos. Nesta pesquisa, sempre que for utilizado, estará adequado a esta perspectiva abrangente e não restritiva aqui declarada.
  3. Em uma tradução livre, significa o Palco Principal do festival. O local de maior centralidade para as dinâmicas do evento e onde os principais e mais renomados artistas se apresentam. Também é neste palco que a apresentação especial de réveillon (o momento da passagem entre anos) ocorre. É importante destacar que os participantes se referem a este palco de diversos modos: Main Stage, Palco Principal, O Pavão.
  4. Ao me referir às situcionalidades estou, ao mesmo tempo, reconhecendo minha situação, isto é, minha presença encarnada e corporificada, no lugar festivo, diante dos demais entes ali presentes. E esse reconhecimento identifica e assume a presença envolta pelo fenômeno para o qual me volto em relação ao espaço-tempo do acontecimento festivo. Além disso, corroboro com a ideia sustentada por Marandola Jr (2018) quando investe na (re)interpretação do termo olhar geográfico aberto aos desafios e reflexões contemporâneos: em suma, a assunção do conhecimento geográfico em uma posição específica de procurar conhecer e em relação com as demais ciências, com o mundo, e com as pessoas em suas interações espaciais. Em outras palavras, a necessidade da Geografia repensar-se a si mesma, buscando a encarnação do termo olhar geográfico nos modos de fazer e pesquisar geografias do cotidiano e do extraordinário.
  5. Paz, Amor, União e Respeito (Peace, Love, Union and Respect).


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