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22 Quem não é visto não lembrado

A associação de textos e imagens na ampliação da cultura histórica no século XIX

Paulo Roberto de Jesus Menezes[1]

Resumen

O homem que emergiu na sociedade ocidental do século XIX se tornou cada vez mais único por se libertar dia a dia das tutelas tradicionais que pesavam sobre seu destino. O mundo material e o simbólico libertavam-se dos limites impostos por antigos valores. Transformações que tinham sua tônica no progresso técnico eram o que assustava e ao mesmo tempo encantava os observadores mais atentos. Em suma, estava em curso uma nova relação com o passado, surgindo, assim, outra maneira de conceber o mundo histórico e, portanto, de escrever ou fazer história, cujas primeiras indicações já eram visíveis desde os primeiros anos daquele século e que, em sua segunda metade, da combinação de inúmeros fenômenos relativos a descrever/entender o tempo decorrido (narrativa histórica, arquivos, museus, ensino de história, lugares de memória), daria vida a uma verdadeira “religião do passado” oficial, a qual posteriormente produziria a opinião geral de que respeitar o que aconteceu consistia em uma obrigação; esquecer beirava o crime. Para Manoel Salgado Guimarães é consensual “entre os estudiosos da História da História que o século XIX assistiu a novas e variadas formas de narrar o passado” e, embora o nascimento da história científica, com suas exigências de objetividade e submetida às regras científicas tenha se tornado o modelo hegemônico da produção inteligível acerca do passado, outras formas narrativas capazes de produzir sentido sobre o tempo pretérito não foram eclipsadas por ela. Assim, ao estudarmos a cultura histórica –aqui compreendida como a relação efetiva e afetiva que um grupo humano tem com seu passado, sendo mais abrangente que a historiografia por não se limitar ao estudo da escrita histórica acadêmica– devemos considerar as várias maneiras que a representação do passado podia assumir naquele momento, percebendo a interconexão entre elas. Logo, importa reconhecer a relação entre texto e imagem em um período no qual se tinha a premissa de que a escrita histórica era baseada apenas em fontes textuais e a legitimidade/autoridade sobre ela provinha, sobretudo, da crítica contundente sobre esses documentos de modo a livrá-los da dúvida. Tomada como lugar da imaginação e, portanto, alvo de severas críticas quanto à sua pretensão de refletir o “verdadeiro”, na cultura histórica do século XIX a imagem deixou de ser mera ilustração e participou efetivamente na elaboração e difusão do discurso histórico. Como ressaltou Maria Inez Turazzi, embora os fundamentos da escrita histórica no oitocentos estivessem assentados sobre os testemunhos escritos, a análise da cultura histórica deve considerar as novas oportunidades de conhecimento e memorização oferecidos pela difusão das imagens. Assim, a partir da combinação de texto escrito e imagens foram estabelecidos elos entre a cultura letrada e cultura visual, logo, estudar o vínculo entre as duas linguagens pode nos mostrar outra forma de produção de sentido e significação para o passado. Neste sentido, pretendo demonstrar que combinadas, a linguagem visual e a textual desempenharam importante papel na produção e difusão do conhecimento histórico e, consequentemente, na ampliação da cultura histórica do século XIX.

Texto

Para explorar os diferentes modos de significação da vida, a linguagem filosófica, que pretende ser muito clara, não é suficiente. Há um pensamento sutil, como dizia Pascal. Não existe apenas um pensamento matemático capaz de explorar as diferentes formas de significado. Para falar como um filósofo é preciso ler literatura, escutar música, porque há outras maneiras de expressar as coisas. O discurso do filósofo é um pouco manco, devo dizer, sem essa referência à literatura. Nela existe uma riqueza, uma densidade de pensamento completamente ausente em outros textos. Eu tento navegar entre um e outro porque acho que é necessário. (Taylor, 2015) El Pais, entrevista a Francesc Arroyo, 10/08/2015.

Se para Charles Taylor o discurso filosófico é manco sem a referência à literatura, da mesma maneira, quero sugerir neste ensaio que o discurso histórico, especialmente para o século XIX, também fica incompleto quando desprezamos a interlocução entre textos e imagens.

Há um consenso na historiografia de que o século XIX pode ser compreendido como o século de consolidação da sociedade burguesa, de implantação do capitalismo industrial e também da afirmação dos nacionalismos europeus, ou melhor, ocidentais. Neste momento, na Europa, a consolidação do pensar histórico estava intimamente ligada à discussão da nação. Ir ao passado como uma forma de legitimar e dar sentido ao presente daquele homem surgido das transformações em curso perpassava a atividade do historiador. No entanto, esta volta ao passado, paradoxalmente, dava-se como uma forma de libertar-se de seu peso sobre o presente e, assim, girar a atenção humana para o futuro e não mais ao tempo pretérito (Rojas, 2000). A noção de nacionalidade era fortalecida pelo desenvolvimento de uma empatia com o tempo remoto aliado a um crescente individualismo.[2]

O homem que emergiu na sociedade do século XIX foi tributário das transformações advindas do Renascimento. Seus hábitos passaram por grandes mudanças. Ele se tornou cada vez mais único por se libertar dia a dia das tutelas tradicionais que pesavam sobre seu destino. É agora senhor de sua trajetória. Outro núcleo de gravidade se configurava na sociedade, pois “das leis superiores impostas por Deus, pelo Estado ou a família, tal centro voltou-se para o culto de si. O indivíduo tornou-se meta e norma de todas as coisas” (Priore, 2009, pp. 7-16). Mas isso não significava o ser isolado, pois como afirma Taylor (2011), “só se é um self no meio de outros. Um self nunca pode ser descrito sem referência aos que o cercam” (p. 53). Referências denominadas redes de interlocução que, ao fim e ao cabo, propiciaram novas relações com o tempo pretérito.

Assim, tanto o mundo material quanto o simbólico libertavam-se dos limites impostos por antigos valores e a produção de imagens em larga escala propiciada por técnicas como a fotografia e a litografia teve um importante papel nesta libertação. O século XIX foi lido também como tempos deploráveis, no qual o surgimento de uma nova indústria “muito contribuiu para destruir o que podia restar do divino espírito francês” (Baudelaire, 1988, p. 70).[3] Um mundo em grande transformação que tinha sua tônica no progresso técnico era o que assustava e ao mesmo tempo encantava os observadores mais atentos. Em suma, estava em curso uma nova relação com o passado (Mastrogregori, 2008), surgindo, assim, outra maneira de conceber o mundo histórico e, portanto, de escrever ou fazer história, “cujas primeiras indicações já eram visíveis desde os primeiros anos do século” (Mastrogregori, 2008, p. 79) e que, em sua segunda metade,

da combinação de inúmeros fenômenos relativos a descrever/entender o tempo decorrido (narrativa histórica, arquivos, museus, ensino de história, lugares de memória), daria vida a uma verdadeira “religião do passado” oficial a qual posteriormente produziria a opinião geral de que respeitar o que aconteceu consistia em uma obrigação; esquecer beirava o crime (Mastrogregori, 2008, p. 79).

Há um consenso entre os estudiosos da História da História que no século XIX surgiram novas e variadas formas de narrar o passado e, embora o nascimento da história científica, com suas exigências de objetividade e submetida às regras científicas tenha se tornado o modelo hegemônico da produção inteligível acerca do passado, outras formas narrativas capazes de produzir sentido sobre o tempo pretérito não foram eclipsadas por ela.Assim, ao estudarmos a cultura histórica –aqui compreendida como a relação efetiva e afetiva que um grupo humano tem com seu passado, sendo mais abrangente que a historiografia por não se limitar ao estudo da escrita histórica acadêmica– precisamos considerar as varias maneiras que a representação do passado podia assumir naquele momento, percebendo a interconexão entre elas. Para os objetivos desta comunicação, importa refletir sobre a relação entre texto e imagem em um período no qual se partia da premissa que a escrita histórica era baseada apenas em fontes textuais e a legitimidade/autoridade sobre ela provinha, sobretudo, da crítica contundente sobre esses documentos de modo a livrá-los da dúvida.

Texto e imagem na representação do passado

Tentar controlar as imagens através do texto é uma prática comum e geralmente executada sem que seja perceptível ou intencional. Descrever uma imagem é um exercício dos mais interessantes, pois nos mostra o quanto cada olhar retira diferentes aspectos de um mesmo lugar (imagem, quadro). Por conta disto, o conhecimento histórico, que tem como pressuposto a procura da verdade, neste caso a história dita acadêmica,[4] encontra muita resistência na utilização de fontes desta natureza, pois “os historiadores preferem lidar com textos e fatos políticos ou econômicos e não com os níveis mais profundos de experiência que as imagens exploram” (Belting, 2010, p. 3). Por isso, “a historiografia centrada na fonte escrita acaba por desconsiderar o fato de que as imagens são os vestígios mais antigos que conhecemos” (Knauss, 2008, p. 152). Um retrato ou mesmo uma paisagem podem adquirir diversos significados dependendo de onde, como e quando são observados ou expostos, logo, fontes importantes para conhecer uma época. Assim, “recuperada em sua dignidade, a imagem, ao lado do escrito, assume diferentes significados na cultura moderna como possibilidade de visualização do passado, como forma de oferecer à visão o invisível do passado” (Guimarães, 2007, p. 26).

Tomada como lugar da imaginação e, portanto, alvo de severas críticas quanto à sua pretensão de refletir o “verdadeiro”, na cultura histórica do século XIX a imagem deixou de ser mera ilustração e participou efetivamente na elaboração e difusão do discurso histórico. Ou seja, embora os fundamentos da escrita histórica no oitocentos estivessem assentados sobre os testemunhos escritos, a análise da cultura histórica deve considerar as novas oportunidades de conhecimento e memorização oferecidos pela difusão das imagens (Turazzi, 2009). Assim, da relação entre as linguagens visual e textual surgiu o que Guimarães (2003) denominou de “poderosa cultura histórica” (p. 11).

Para o historiador “o valor documental da imagem está em retratar uma época em seus sonhos, fantasias e expectativas sociais” (Pesavento, 2005, pp. 87-89).Ou seja, à pesquisa histórica, serviria para exibir as representações que homens e mulheres tinham de si próprios e do mundo, bem como os valores e conceitos experimentados e que queriam passar atingindo, assim, de forma direta ou subliminar, a dimensão simbólica da representação. Logo, tomar como fonte de pesquisa materiais impressos nos quais texto e imagem juntos produziam sentidos esperados pode nos fornecer uma visão de como o mundo histórico resignificava as imagens em sua representação. Agora, gostaria de propor uma hipótese: o modelo de escrita contendo imagens constituiu-se em uma nova forma estética de conceber o texto histórico.[5] Esta não é uma questão menor visto que a escrita histórica ganhou, ao longo do século XIX, o estatuto de “escrita científica” tendendo, por isso, a excluir as imagens como fonte para seu desenvolvimento. Neste caso, trata-se principalmente, da sua incorporação a um ambiente distinto do acadêmico, ou seja, o conhecimento histórico ampliava-se dos círculos letrados para outros setores da sociedade, em especial, os artísticos e a imprensa.

Para esta comunicação utilizei obras com o formato de galeria de ilustres, muito comuns ao longo do século XIX. Elas reuniam duas importantes formas de expressão cujo foco principal é o indivíduo: o gênero biográfico e o retrato. Nelas, texto e imagem misturavam-se para formar um conjunto homogêneo de complementaridade recíproca.Ligadas aparentemente à questão nacional, elas uniam-se ao crescente processo de individualização e diferenciação pelo qual passava a sociedade – um individualismo coletivo (Gay, 2009), tornando-se, por um lado, objeto de consumo para uma elite abastada ciosa por reconhecimento, admiração e distinção e, por outro, fonte de conhecimento histórico para pessoas pouco afeitas ao mundo das letras. Para além das palavras, a imagem, cada dia mais acessível, funcionava como elemento de diferenciação.

De cunho claramente pedagógico e laudatório, inserindo-se no que Hartog (2013) denominou de antigo regime de historicidade, as galerias de ilustres traziam em seu cerne toda uma rede de simbolismo ligada entre si pelo entrelaçamento de texto e imagem. Divulgadas em diferentes meios como jornais e revistas ilustradas, eram o elo de ligação de pessoas dos mais diferentes lugares contribuindo, desta forma, para a elaboração simbólica do “novo homem”,[6] pois, como ressaltado por Arfuch (2010), toda biografia ou relato da experiência é, “num ponto, coletivo, expressão de uma época, de um grupo, de uma geração, de uma classe, de uma narrativa comum de identidade” (p. 100).

Ao tomar obras compostas pelas narrativas visual e textual como um contraponto àquelas elaboradas apenas por texto quero propor outra leitura da escrita histórica do século XIX. Meu intuito é o de vislumbrar a possibilidade de uma inflexão nesta escrita no que toca aos seus cânones. Ou seja, uma escrita claramente voltada para o exemplar, que tinha na história magistra vitae[7] sua premissa, adota nas galerias ilustradas a linguagem extremamente moderna da visualidade. Este ponto é ainda pouco visível aos que veem na escrita textual a principal fonte de inspiração e difusão do conhecimento histórico e desconsideram as transformações ocorridas na sociedade do século XIX, em especial a crescente individualização.[8] Tais transformações podem ser indício de uma sociedade cada vez mais complexa[9] que teve no crescimento da circulação de impressos uma importante característica. Em suma, o problema a ser enfrentado pode ser exposto na seguinte formulação: como se estabeleceu esta junção entre texto e imagem? Ou ainda, como a cultura histórica foi influenciada pela ligação entre a cultura letrada e a cultura visual?

Neste sentido, meu intuito foi, por um lado, refletir sobre a produção e a difusão do conhecimento histórico e, por outro, discutir a importância da experiência visual para a sociedade naquele momento e o seu desdobramento na elaboração de uma escrita histórica moderna baseada na interação de linguagens aparentemente excludentes (texto e imagem), mas que se juntaram para formar uma nova maneira de percepção social e, porque não, uma poderosa cultura histórica nascida da associação entre “interesses nacionais e de um projeto científico para a história ainda a nos marcar coletivamente e que viria afirmar e garantir a centralidade da História no processo de definição de sentidos para o homem contemporâneo” (Guimarães, 2003, p. 11).Lançando mão de categorias como desenvolvimento e progresso, esta nova cultura histórica poderia assegurar ao presente um sentido e um porto seguro, “indicando no mesmo movimento os caminhos para o futuro” (Guimarães, 2003, p. 11). Presente este marcado não só pela sincronia com o tempo da modernidade europeia e a crescente circulação de novas mercadorias, mas também pelo desenvolvimento de novos espaços de sociabilidade e de uma sensibilidade cultural mais ampla (Alencastro, 1997, pp. 11-93).

Transitório e eterno, efêmero e imutável, tradição e modernidade. Talvez por isso, o século XIX seja aos historiadores fonte inesgotável de estudos. Momento no qual tudo que era sólido desmanchava no ar (Berman, 1986), as certezas ruíam e outros caminhos se abriam frente aos homens e mulheres.A modernidade oitocentista com seu “fascínio pela heresia” (Gay, 2009, p.21) contaminaria toda sociedade de forma inequívoca derivando em novos arranjos sociais, culturais e econômicos, deixando marcas indeléveis na história.

Como venho debatendo, a partir da combinação de texto escrito e imagens foram estabelecidos elos entre a cultura letrada e cultura visual, logo, estudar o vinculo entre as duas linguagens pode nos mostrar outra forma de produção de sentido e significação para o passado. Assim, quero concluir afirmando que combinadas, a linguagem visual e a textual desempenharam importante papel na produção e difusão do conhecimento histórico e, consequentemente, na ampliação da cultura histórica do século XIX. Ler e ver para lembrar parece ter sido a ideia subjacente na elaboração das obras estudadas.

Referências

Alencastro, Luis Felipe de (1997), “Vida privada e ordem privada no Império”. In: Alencastro (org.). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, V.2, pp. 11-93.

Arfuch, Leonor (2010), O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EDUERJ.

Bakhtin, Mikhail (2010), Questões de Literatura e de estética (A Teoria do Romance). São Paulo: HUCITEC.

Baudelaire, Charles (1988), A modernidade de Baudelaire. Apresentação de Teixeira Coelho. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Belting, Hans (2010), Semelhança e presença: a história da imagem antes da história da arte. Rio de Janeiro: Ars Urbe.

Berman, Marshall (1986), Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras.

Elias, Norbert (1994), A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Gay, Peter (2009), Modernismo: o fascínio da heresia: de Baudelaire a Beckett e mais um pouco. São Paulo: Companhia das Letras.

Gonçalves, Denise (2011), “A construção de um imaginário urbano: historiografia e imagens da cidade em Ostensor Brasileiro”. In: Knauss, Paulo (et al.) (org.). Revistas ilustradas: Modos de ler e ver no Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, pp. 81-104.

Guimarães, Manoel Luiz Salgado (2003), “A cultura histórica oitocentista: a constituição de uma memória disciplinar”. In: Pesavento, Sandra Jatahy (org.). História Cultural: experiências de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Guimarães, Manoel Luiz Salgado (2007), “Vendo o Passado: representação e escrita da história”. Anais do Museu Paulista. São Paulo. v 15. n.2, Jul-dez., pp.11-30.

Hartog, François (2013), Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica.

Heller, Agnes. O Homem do Renascimento. Lisboa: Editorial Presença, S/D.

Knauss, Paulo (2008), “Aproximações disciplinares: história, arte e imagen”, Anos 90, Porto Alegre, v.15, n.28, p.151-168, dez.

Koselleck, Reinhart (2006), Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio.

Mastrogregori, Massimo (2008), “Historiografia e Tradição das Lembranças”. In: Malerba, Jurandir (org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, pp.65-93.

Pesavento, Sandra Jatahy (2005), História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica.

Priore, Mary Del (2009), “Biografia: quando o indivíduo encontra a história”, Topoi, v.10, n.19, p.7-16, jul/dez.

Rojas, Carlos Antonio Aguirre (2000), “La biografia como gênero historiográfico. Algumas Reflexiones sobre sus posibilidades actuales”, In Schmidt, Benito Bisso (org.). O biográfico: perspectivas interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, pp.9-48.

Taylor, Charles (2011), As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas.

Taylor, Charles (2015), “As pessoas hoje não têm claro o sentido da vida: depoimento” [10 de agosto, 2015]. Brasil: El Pais. Entrevista concedida a Francesc Arroyo. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_088926.html. Acesso em 01/09/2017.

Turazzi, Maria Inez (2009), Iconografia e patrimônio: o Catálogo da Exposição de História do Brasil e a fisionomia do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional.

Velho, Gilberto (1994), Projeto metamorfose: a antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.


  1. NUBHES – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
    Email: pmenezes@metalmat.ufrj.br e paulorjmenezes@gmail.com.
  2. No jogo político este individualismo é representado pela ideia de nação.A história nacional seria concebida como a “biografia da nação” concatenando passado, presente e futuro em uma sucessão lógica de eventos. Agnes Heller percebe que a individualidade tal como existe tanto na realidade como enquanto ideal, é produto de uma longa evolução histórica com as épocas históricas contribuindo de modo diverso para este desenvolvimento. Segundo Heller (S/D), “o renascimento contribui em grande medida nesta trajetória e as épocas que o sucederam puseram a descoberto novas características da individualidade. Enriqueceram e refinaram a sua estrutura e deram-lhe uma maior consciência de si própria” (p. 163). Já para Elias (1994), “os avanços da individualização, como na renascença, não foram consequência de uma súbita mutação em pessoas isoladas, ou da concepção fortuita de um número especialmente elevado de pessoas talentosas; foram eventos sociais, consequência de uma desarticulação de velhos grupos (…). Em suma, foram consequência de uma reestruturação das relações humanas” (pp. 28-29).
  3. Nesta passagem a preocupação do autor é o vertiginoso crescimento da fotografia ocorrido na França após a sua invenção.
  4. Para Guimarães (2007), muitas das vezes o complexo processo de reelaboração intelectual de diversas heranças ficou submetido ao sentido vitorioso de uma história acadêmica, que tendeu ver o passado como a lenta e progressiva caminhada da história à sua cientifização, percebida como a forma mais organizada, racional –e, portanto, verdadeira– de acesso ao conhecimentodo passado, e este processo de cientifização submeteu a visão às fontes textuais mesmo em projetos como o pretendido pela pintura histórica, que assentava a produção de imagens à pesquisa e ao conhecimento das fontes escritas .
  5. À história cabia, dentro do critério de cientificidade, desvendar a verdade. Neste sentido, a biografia compostacom imagens surtiria por um lado, o efeito de realidade para o narrado e, por outro, exteriorizava a personagem homenageada em um movimento que a tornasse fonte de exemplo. Segundo a caracterização de Mikhail Bakhtin, este corresponderia ao tipo biográfico analítico, uma vez que em sua composição estaria, além da vida social, vida familiar, virtudes e vícios, a aparência exterior (Bakhtin, 2010).
  6. Este “novo homem” pode ser caracterizado resumidamente como tributário das transformações ocorridas durante o século XIX em todo ocidente. Certamente os modos de pensar, agir e sentir foram contaminados pelo furor de modernidade que este século carregou.
  7. A história como orientadora das ações dos homens, a mestra da vida, foi uma forte característica dos historiadores do oitocentos no Brasil. Segundo Koselleck (2006), a expressão ciceroneana historia magistra vitae orientou durante séculos a maneira como os historiadores compreenderam seu objeto ou mesmo a sua produção e este tipo de escrita teria durado até o século XIX vindo a se diluir no decorrer da época moderna” (pp. 42-43).
  8. Para Mastrogregori (2006), foi o desenvolvimento da cidade, este “agente transformador de memórias” comsuas oficinas e ateliês, que possibilitou o encontro da escrita e da imagem (p. 77). Já Gonçalves (2011) em artigo sobre a revista Ostensor Brasileiro, realça que aquela publicação ilustrada tinha como projeto a construção da história, da memória e de um imaginário em um momento em que o país se encontra entre dois modelos culturais quase antagônicos”. Se por um lado havia a permanência de aspectos do período colonial, por outro, havia o contato como uma rede de influência característica do século XIX (pp. 81-90).
  9. Segundo Velho (1994), “em uma sociedade tradicional, holista, em que o indivíduo é englobado pelo clã, linhagem, tribo, etc., a memória socialmente relevante é a da unidade “encompassadora” e a memória socialmente significativa é a da unidade englobante, havendo pouca ênfase ou reconhecimento da noção de biografia no sentido moderno (p. 98). Para ele, em qualquer sociedade há o processo de individuação mas a individualização seria própria das sociedades ou segmentos sociais onde florescem ideologias individualistas que fixam o indivíduo socialmente significativo, como valor básico da cultura (Velho, 1994).


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